No contexto do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), a área de Ciências da Natureza e suas Tecnologias desempenha um papel fundamental, desafiando os estudantes a aplicarem conhecimentos interdisciplinares para compreender e solucionar problemas do mundo real.

A prova de Ciências da Natureza e suas Tecnologias do Enem 2024 seguiu o padrão de temas esperado para essa prova, apresentando questões que versavam sobre meio ambiente, saúde e tecnologia — como o impacto dos microplásticos, o Mirascópio 3D, o crumple zone e célula a combustível microbiana. 

O destaque dessa edição vai para a forma como as questões foram apresentadas, com predominância de imagens, gráficos e esquemas em vez de textos e quadros, como na edição passada.

Em relação ao componente curricular de Biologia, os assuntos abordados seguiram a prova da edição anterior. Grande parte dos textos abordou assuntos ligados ao meio ambiente e à saúde, com fotos, cladogramas, heredogramas e desenhos para contextualizá-los. Neste ano, não houve uma grande quantidade de questões de botânica como no ano passado. Por outro lado, a prova trouxe questões de zoologia, algo que não foi frequente em 2023. Ecologia, genética e citologia foram áreas frequentes nas questões de Biologia.

Mantendo a tradição dos últimos anos, a prova apresentou várias questões de ecologia. Uma questão apresentava um fluxograma e exigia a análise da biodiversidade aquática e o que ocorre com os organismos que predam as larvas de mosquitos. Em outra, um texto comentava os sistemas agroflorestais e o(a) estudante devia reconhecer o caso como sucessão ecológica. Ainda nessa prova, uma questão abordava a cadeia alimentar e nela o(a) estudante precisava compreender a fitorremediação para reconhecer o caso de bioacumulação devido ao aumento da concentração de uma substância nos tecidos ou órgãos dos organismos de um determinado nível trófico. Ainda em ecologia, uma questão falava sobre o uso de plantas para despoluir áreas contaminadas com mercúrio e outra abordava a introdução de espécies exóticas de sapos em ambientes urbanos. 

A área de zoologia trouxe assuntos sobre os filos Arthropoda e Chordata. A questão sobre os artrópodes fazia uma análise de um processo recorrente por crustáceos, chamado muda ou ecdise, e o(a) estudante precisava reconhecer a importância desse processo, pois, sem ele, os artrópodes não crescem adequadamente por não trocar o seu exoesqueleto. Sobre os cordados, uma das questões abordava os sons realizados pelas pererecas, enquanto outra apresentava um cladograma mostrando a evolução dos mamíferos. Nessa última, o(a) estudante precisava reconhecer os monotremados, os marsupiais e os placentários e relacioná-los com as novidades evolutivas, por exemplo, na diminuição da vesícula vitelínica, um dos anexos embrionários.

Vários conceitos de citologia foram exigidos do estudante. Uma das questões cobrava as classificações dos microrganismos em relação ao metabolismo energético. A partir de uma ilustração de três tubos de ensaio contendo três gêneros bacterianos, o(a) estudante precisava analisar e reconhecer o metabolismo aeróbio e anaeróbio dos grupos de bactérias. Outra questão apresentava um esquema de um experimento com células de um protozoário chamado Amoeba proteus. Nela, o(a) estudante precisava reconhecer qual elemento celular foi afetado pela droga utilizada no experimento a partir das funções descritas no texto. 

Em genética, houve uma questão sobre a herança ligada ao sexo pelo cromossomo X. A última vez que esse assunto apareceu no Enem foi em 2022, quando abordou o mosaicismo em função da inativação aleatória de um dos cromossomos X. Na prova deste ano, a questão discutia o daltonismo, condição genética ligada ao cromossomo X que dificulta a percepção de cores. Outra questão de genética estava associada às técnicas de biotecnologia; para resolvê-la, o(a) estudante precisava reconhecer o tipo de gene que a técnica de reação em cadeia pela polimerase detecta.

Por fim, duas questões abordavam contextos ligados aos vírus. Uma delas descrevia o vírus linfotrópico de células T humanas e pedia para que o(a) estudante reconhecesse o câncer como consequência da infecção por ele. Assim como nas provas anteriores do Enem, houve uma questão sobre vacina. Desta vez, o(a) estudante precisava identificar a função da proteína viral existente na vacina.

O mimetismo das cobras-corais, as substâncias cancerígenas no sistema digestório e as fibras musculares esqueléticas no desempenho físico de um atleta também apareceram na prova e exigiram conhecimentos básicos do(a) estudante.

No componente de Química, a prova exigiu do(a) estudante a interpretação e análise de informações predominantemente em imagens e esquemas, mas algumas questões ainda contavam com textos. Essas habilidades foram demandadas em temas que versavam sobre as aplicações da química em contextos tecnológicos, ambientais e do cotidiano. Além disso, a prova de 2024 exigiu pouca realização de cálculos e, seguindo a tendência da edição anterior, não houve questões de termoquímica. No entanto, diferentemente do ano passado, a eletroquímica esteve presente nesta edição.

Neste ano, uma questão de química orgânica demandava a comparação de seus conceitos ao longo da história com a concepção aceita atualmente. Ainda nessa área, uma questão com a estrutura de um fármaco (a nimesulida) exigia a compreensão das características ácido-base dos grupos funcionais presentes na molécula apresentada para relacioná-la ao conceito de base de Brönsted-Lowry. Por fim, em outra questão era necessário comparar e identificar a função orgânica comum em duas moléculas presentes em pesticidas naturais.

A físico-química foi abordada através de eletroquímica, cálculos estequiométricos e equilíbrio-químico. Em relação à eletroquímica, a prova trouxe, por meio de reações orgânicas, um esquema de células combustíveis microbianas, em que era necessário descobrir a equação global. Em outra questão, a contextualização foi realizada através da Biologia, com uma imagem dos processos e reações químicas de seres procariontes no ciclo do nitrogênio e do carbono, sendo necessário comparar esses dois processos e saber em qual etapa ocorria uma transformação redox semelhante em ambos. Adicionalmente, ainda na eletroquímica, uma questão abordava o funcionamento de placas solares em dias chuvosos, utilizando o recobrimento de grafeno como alternativa para que essas células conseguissem converter energia elétrica.

Ainda no contexto da físico-química, foi necessária a aplicação de conceitos sobre a concentração de soluções e dissociação de sais para realizar o cálculo da quantidade de massa de cloreto de sódio presente em uma solução de soro caseiro.  Outra questão dessa vertente demandava a escolha de um método adequado para separar um produto formado em uma das etapas de obtenção do magnésio metálico. A prova ainda trouxe uma questão de equilíbrio químico da hidroxiapatita presente nos dentes e como o processo de mineralização/desmineralização desse material poderia ser influenciado pelo pH das pastas de dentes.

Na química geral, a estequiometria foi necessária para calcular o valor da massa de bauxita que deixou de ser extraída da natureza com a reciclagem de latas de alumínio. Ainda nesse assunto, o cálculo estequiométrico foi utilizado para saber a quantidade de biometano, produzido em um empreendimento de suinocultura, necessário para substituir outro combustível, no caso, o etanol. Destaca-se também a abordagem da atomística que exigiu o reconhecimento do fenômeno de fosforescência em placas de sinalização de emergência.

A prova de química ainda abarcou, através de análise gráfica, a influência da relação entre a quantidade de oxigênio e a quantidade de combustível presentes em motores de combustão interna na formação de fumaça fotoquímica. 

Nesta disciplina, as questões apresentaram uma grande quantidade de imagens que favoreceram o entendimento, como tirinhas, ilustrações, gráficos e representações de circuitos.

Assim como nos anos anteriores, a eletrodinâmica, mecânica e ondulatória predominaram nas questões da prova. No entanto, pode-se destacar as questões com assuntos atuais sobre crumple zone e Mirascópio 3D.

A área da Mecânica foi abordada através da cinemática e dinâmica. A dinâmica trouxe uma questão com texto e imagem sobre a importância da zona deformável em carros (crumple zone). Ela exigia a explicação de como essa região funcionava ao absorver a energia cinética do choque no caso de acidentes. Outra questão versava sobre a importância do ajuste do centro de massa na calibração do pneu de carro, em que o(a) estudante deveria localizar, observando uma imagem de um pneu, o ponto correto para a calibração. Ainda no contexto da Mecânica, uma tirinha do Calvin foi utilizada para contextualizar uma situação de queda e, assim, o conhecimento das Leis de Newton foi necessário para saber o vetor resultante.

Já em cinemática, demandou-se o cálculo do intervalo de tempo que um nadador iria levar em uma maratona, considerando grandezas vetoriais.

Duas questões trataram da eletrodinâmica, envolvendo ilustrações mostrando circuitos elétricos. Uma delas solicitava a aplicação de conhecimentos sobre tensão e potência elétrica em um circuito. Na outra questão, era necessário reconhecer o circuito elétrico descrito no texto.  

Em ondulatória, três questões trouxeram assuntos que exigiam do(a) estudante relacionar as propriedades e a propagação das ondas. Destaca-se a questão que trouxe como contexto a saúde auditiva do professor, apresentando, de maneira gráfica, os sons emitidos em uma sala de aula para compreensão de falas. Por fim, mais duas questões abordaram o tema: uma trazia o comparativo de frequências de ondas medidas por um radar e na outra foi necessário relacionar o comportamento do raio X com a limitação do seu uso em notebook e laptops no embarque em aeroportos.

Na parte de termologia, a prova demandou a utilização das leis da física para explicar uma situação apresentada em uma tirinha da Laerte: duas crianças necessitaram de uma geladeira para transformar a água líquida em gelo no interior de um iglu. Outra questão apresentava o funcionamento de aquecedores de calor demandando o reconhecimento do processo de convecção na troca de calor nos coletores solares. Ainda nessa parte, outra questão demandava, através de análise gráfica, a compreensão das etapas do ciclo Otto em motores a gasolina ou etanol.

Questões de eletrostática e óptica também estiveram presentes nessa edição. A questão de eletrostática abordava um experimento com duas barras metálicas, farelo de milho e óleo. Nela, o(a) estudante precisava averiguar a indução eletrostática e a polarização das cargas elétricas livres. Já na questão de óptica, foi necessário relacionar as informações apresentadas no texto para descobrir a natureza da imagem formada no Mirascópio 3D.

A área de Ciências da Natureza seguiu a tendência geralmente vista no Enem em relação aos assuntos esperados. A aplicação deste ano apresentou um nível de dificuldade fácil, no geral. Não demandou cálculos que levassem muito tempo e privilegiou a aplicação de conceitos através da análise e interpretação dos elementos gráficos e ilustrações apresentados.

Assuntos recorrentes na prova: