Quero trabalhar fake news e checagem de informações em sala de aula. Por onde começo?

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Neste artigo, Julci Rocha apresenta algumas dicas que podem ajudar ao educador a abordar o tema das fake news com seus alunos de forma eficiente, visando o aumento de uma sensibilidade crítica em sala de aula.

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Em janeiro deste ano, abordei a importância cada vez maior do letramento informacional nas práticas educacionais. Nos últimos meses, esse assunto ganhou grandes proporções diante dos debates em torno das fake news, informações falsas que circulam na internet com status de notícia.

O escândalo envolvendo o acesso aos dados de usuários do Facebook por uma empresa que participou da campanha eleitoral de Trump em 2015 (entenda melhor o caso aqui) trouxe à tona os interesses por trás da divulgação de notícias falsas. Nesse caso em específico, a disseminação de notícias sensacionalistas entre os eleitores americanos teve como objetivo favorecer o candidato. Outros motivos levam à circulação de notícias falsas, como o interesse em “views” para aumento da venda de espaço publicitário nessas páginas.

Combate às fake news: Veja como o conteúdo de Educação Digital do Geekie One ensina aos jovens e professores a identificar e lidar com os riscos, oportunidades e desafios de estarem conectados

Mas não se tratam apenas de textos escritos que circulam com conteúdo falso. As fotografias e vídeos também são alvos de manipulação cada vez mais sofisticadas, o que torna mais difícil identificá-las.

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Diante desse cenário, como abordar esse assunto com nossos alunos de forma eficiente? Com que idade devemos abordar o tema?

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) introduz objetivos específicos para o campo jornalístico e midiático já no sexto ano do ensino fundamental. Apenas nas práticas de leitura, são 28 habilidades sinalizadas pela BNCC como pertencentes a esse universo no Ensino Fundamental. A leitura crítica dos textos jornalísticos já se inicia nesse ano/série, mas temas adjacentes relacionados à cidadania digital podem ser abordados antes, como vem acontecendo em diferentes escolas brasileiras, segundo matéria publicada no Estadão em março deste ano.

É importante destacar que encontrar e avaliar a qualidade de informações é um tema que interessa a todas as áreas de conhecimento, devendo, portanto, estar presente em práticas pedagógicas não somente dos professores de língua portuguesa.

O assunto tem se tornado cada vez mais importante, o que levou o Midiamakers a organizar o evento “Mediathon: educação para a informação”, nos dias 21 e 22 de abril. Esse evento teve como objetivo reunir pessoas de diferentes áreas (jornalistas, designers, programadores e educadores) para aprender mais sobre o tema e elaborar materiais educacionais que possam ser utilizados por professores em sala de aula. Todos os materiais serão divulgados com licença aberta e gratuitos.

O evento visou ampliar o debate sobre o tema, indo além das “fake news” para tratar da checagem de informações de forma geral. Afinal, identificar conteúdo falso é uma parte do desafio já que precisamos desenvolver a competência leitora dos nossos estudantes para identificar imprecisões, descontextualizações e viés.

Victor Sobreira¹, professor de História, participou do evento e, junto com seus colegas de grupo, elaborou o jogo “Não foi Cabral”. Nesse jogo, o objetivo é a verificação e checagem de textos presentes nos livros didáticos, partindo de quatro aspectos fundamentais: autoria, fontes e dados, contrapontos e contexto. O jogo estimula a investigação, num formato lúdico e engajador.

As perguntas iniciais que o jogo coloca para investigação desses quatro aspectos de um texto são um excelente ponto de partida para iniciar um aprendizado sobre o tema:

O evento deu uma grande contribuição para esse assunto, pois ainda temos poucos conteúdos educacionais disponíveis em Língua Portuguesa. Esse e outros materiais elaborados estão disponíveis gratuitamente na página do evento.

A DW Brasil, empresa de comunicação alemã, produziu alguns vídeos de excelente qualidade que também podem ser utilizados pelos professores como recurso educacional. Os vídeos, com uma linguagem simples e feito com animação, são poderosas fontes de sensibilização e chamam a atenção da garotada.

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Dicas de como realizar a checagem de notícias:

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Dicas de como realizar a checagem de imagens:


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Dicas de como realizar a checagem de vídeos:


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A agência Lupa Educação e o Canal Futura também estão preocupados com essa questão e lançaram o Projeto Fake ou News. Segundo o site, até as eleições de 2018, 30 trilhas de conhecimento serão publicadas, envolvendo a transparência eleitoral e a checagem de informações.

Aqui você também pode encontrar planos de aula traduzidos para o português pela Publica.org e que foram elaborados para o projeto Fact-Checking Day, ou o dia Internacional da checagem de fatos, que é comemorado no dia 2 de abril (após o dia da mentira). O site da Fact-Checking Day tem sido um espaço de disseminação dessa proposta.

Acredito que seja importante valorizar essas iniciativas e, mais do que isso, levar esse aprendizado para a salas de aula. Cada docente deve ter a esperança de que não somente os alunos tenham a possibilidade de pensar a agir criticamente sobre essas questões, mas que disseminem esse comportamento ético e responsável aos seus familiares e amigos, tornando as redes sociais e os espaços contemporâneos de comunicação mais qualitativos.

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Referências:

  • Boatos, E-Farsas e Aos Fatos. Sites de verificação de notícias, com o objetivo de sinalizar a circulação de informações.
  • DW Brasil (Youtube). Disponível aqui.
  • European Journalism Centre. Manual de verificação (para coberturas de emergência). Disponível aqui.
  • Fact-Checking Day (Site). Disponível aqui.
  • Futura e Lupa Educação. Fake ou News. Disponível aqui.
  • Kqed Teach – Finding & evaluation information (curso em inglês). Disponível aqui.
  • MidiaMakers: educação para a informação (site do evento). Disponível aqui.
  • Poynter. Fact-checking day. Plano de aula (em português). Disponível aqui.
  • Projor e UNESP. Manual da credibilidade. Disponível aqui.
  • Victor Sobreira (Blog). Disponível aqui.
¹Agradeço a colaboração de Victor Sobreira, professor de História da Escola da Granja e aluno do curso de Pós-Graduação em Metodologias Ativas, do Instituto Singularidades, do qual sou docente.

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*JULCI ROCHA É MESTRE EM EDUCAÇÃO: CURRÍCULO. É ESPECIALISTA EM GESTÃO EDUCACIONAL, DESIGN EDUCACIONAL E EDUCAÇÃO INOVADORA. LICENCIADA EM LETRAS PELA USP, É PESQUISADORA DA ÁREA DE INOVAÇÕES EM EDUCAÇÃO ENVOLVENDO MULTILETRAMENTOS, TECNOLOGIAS DIGITAIS, METODOLOGIAS ATIVAS E CURRÍCULO. MEDIADORA DE PROCESSOS COLABORATIVOS, COMO O DESIGN THINKING, TEM EXPERIÊNCIA EM ELABORAÇÃO, COORDENAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE PROGRAMAS INOVADORES EM REDES PÚBLICAS E PRIVADAS, ATUANDO NA ÁREA HÁ MAIS DE 10 ANOS, COM VIVÊNCIA EM INSTITUIÇÕES IMPORTANTES COMO O INSTITUTO PAULO FREIRE, FUNDAÇÃO LEMANN E MICROSOFT. HOJE, É DOCENTE DO INSTITUTO SINGULARIDADES, CONSULTORA PARCEIRA NA TRÍADE EDUCACIONAL E DIRETORA DA REDESENHO EDUCACIONAL. CONTATO: JULCI@REDESENHOEDUCACIONAL.COM.BR
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