Entrevista: “Problemas complexos do futuro exigem formação continuada a vida toda”

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Gil Giardelli, referência no Brasil em Inovacão e Economia Digital, conta ao InfoGeekie um pouco de sua carreira e sua visão sobre os desafios do futuro para o mercado de trabalho e para a Educação.

“Naquela época cabia em uma komb a galera que trabalhava com internet”, conta Gil Giardelli, estudioso de inovação e economia digital, ao relembrar o começo de sua carreira profissional. Em entrevista ao InfoGeekie, ele argumenta que estamos vivendo um momento particular da história, próximos de uma nova revolução industrial. Esse momento exige uma revisão da forma como ensinamos e o quanto aprendemos, além de uma formação continuada: estudar a vida toda é o principal conselho de Giardelli tanto para profissionais já no mercado de trabalho, como também para educadores e atuais estudantes.

Giardelli observou o surgimento da internet comercial no Brasil e no mundo. Ele conta que na década de 1990, recebeu no Brasil a responsável por uma empresa norte-americana que começava a investir em um dos recursos mais usados atualmente no mundo, o e-mail marketing. Em pouco menos de duas décadas, o boom da internet atingiu a terra do Cristo Redentor e hoje não é mais possível pensar em comunicação à distância sem considerar a rede mundial de computadores. Essa realidade impõe, até hoje, novos desafios.

Com formações no Massachusetts Institute of Technology (MIT), Stanford University e na Universidade de São Paulo (USP), atualmente Giardelli é referência em Inovação e Economia Digital no Brasil. Como professor, lecionou em grandes universidades aqui e no mundo como a Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), Unicamp, Stanford University e MIT. Também é membro da Federação Mundial de Estudos do Futuro (WFSF, sigla do original, em inglês), em Paris, e da World Future Society, em Chicago.

Giardelli participará, em março, do GEduc 2019. O evento reúne gestores e diretores escolares para debater, em uma série de fóruns e congresso, a “Educação 4.0: A revolução nas instituições educacionais”. Giardelli será palestrante especial com o tema “O futuro inteligente, além da inovação”, no dia 28 de março, no VIII Fórum de Inovação Acadêmica, às 14h.

O Geduc 2019 também contará com a presença do CEO da Geekie, Claudio Sassaki, no I Fórum EdTech, no dia 29 de março, às 8h30. O evento acontecerá entre os dias 27 e 29 e acontecerá no Hotel Maksoud Plaza (Rua São Carlos do Pinhal, 424). Gestores e diretores escolares, leitores do InfoGeekie, podem adquirir o ingresso para participar das discussões com 20% de desconto usando o cupom “Geekie” no site do evento: www.geduc2019.com.br.

Confira a entrevista com Giardelli:

InfoGeekie: Atualmente discutimos muito, na Geekie, a questão da internet e seu uso, principalmente em nossa disciplina de Educação Digital. Por ter acompanhado de perto o surgimento da internet no Brasil, você concorda com a crítica de que não soubemos usar essa tecnologia da comunicação da melhor forma possível, como defendem alguns dos críticos da web?

Gil Giardelli: Não acho que perdemos as potencialidades. Eu acho que, na verdade, a gente ainda vive uma infância nessa era digital. Por conta dessa infância, a gente acredita que não está sendo uma experiência bacana e às vezes a falta de maturidade nossa, como uma sociedade digital, nos faz achar que não estamos aproveitando a internet da melhor forma possível. Porém, logo a gente vai crescer como sociedade digital e vamos fazer coisas bacanas. Faz parte de um processo.

As pessoas esperam que comece a se discutir sobre física quântica logo no início da internet, mas não é assim. No começo são mais temas irrelevantes, para depois passar para temas políticos mais relevantes – que é o momento no qual estamos vivendo agora e que às vezes a gente descamba para a falta de educação na discussão. Mas, isso é um processo de crescimento. Não deu tempo de fazer um manual de boas maneiras ainda.

InfoGeekie: Pensando neste processo, pensar a educação do futuro também considera a questão de como será o mercado de trabalho. Alguns economistas defendem que o capitalismo está vivendo uma crise profunda de sua organização. Tendo essa questão em mente, a Economia Digital seria uma saída para essa crise?

Giardelli: Tudo o que nós montamos de capitais sobre o mundo são baseados em produtividade de fatores, PIB, renda per capita… Olha só o nome do PIB: Produto Interno Bruto. O nome já é “Bruto”. Porém, esses índices eram importantes quando se mensurava números de quilômetros de estradas de ferro, sacas de algodão, enfim, coisas que eram commodities. Em uma Economia do Conhecimento, com o intangível e as idéias, a questão passa a ser quanto custa um site e o trabalho das pessoas envolvidas nele. Essa Economia da Inteligência Artificial está propondo novas formas de você mensurar o mundo. Isso é base de discussões seríssimas na qual o acúmulo de capital tem seu ponto, mas o acúmulo de intelecto também tem impacto nesta nova economia.

InfoGeekie: Todo esse cenário, da internet e do mercado de trabalho, conversa com a 4a Revolução Industrial, um tema que também faz parte de seus artigos e palestras. Você pode nos explicar um pouco o que é essa revolução?

Giardelli: Se antes o mundo precisava de máquinas, agora o mundo precisa de cérebros. Se na Primeira Revolução Industrial nós trouxemos fuligem para os céus, agora, na Quarta Revolução, nós vamos trazer as soluções para os problemas que criamos até aqui. Na verdade, muito mais que máquinas, nós precisamos de pessoas de alto impacto. O mundo dos negócios de hoje tem altas complexidades e precisamos de pessoas que estejam preparadas para apontar soluções.  Nesse cenário, na crise educacional que estamos vivendo no mundo, temos professores que, em algum momento da vida, pararam de estudar. Eles são surpreendidos por alunos que chegam na escola sabendo mais, talvez não com mais profundidade, mas chegam sabendo mais que as gerações anteriores. Aí a sala de aula ficou extremamente chata.

Dando um exemplo mais claro, podemos citar o jogo Assassin Creed Origins. Para essa versão, que se passa no Egito, foram convidados os melhores egiptologistas do mundo para ajudar na criação. Se você é uma criança ou um jovem e finaliza o jogo, você vai saber muito mais de Egito Antigo que a maioria dos professores de História. Então, como que fica a sala de aula nesse contexto? São novas formas de aprender.

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InfoGeekie: Você acredita que a educação por meio do desenvolvimento de competências e habilidades em sala de aula, é o melhor caminho para preparamos essa as novas gerações para essa configuração da economia mundial?

Giardelli: Na verdade, eu acredito que existe uma discussão maior que é: Os nossos professores entenderam o papel deles no século XXI? Acredito que o professor, hoje, deixou de ser o detentor do conteúdo, para entender que, agora, ele é o maestro do conteúdo ou o curador do conteúdo. Nós estamos em uma era na qual nenhum de nós é tão inteligente quanto todos nós juntos. Se você entende isso, você muda a Educação. É isso que está fazendo a grande mudança.

Eu acho que a gente vai precisar primeiro desconstruir e reconstruir a carreira de professor. Antes de se discutir qualquer coisa, precisamos entender qual é o papel do professor na sociedade. A outra pergunta que devemos fazer é: Qual é o nosso projeto de futuro geracional como nação inovadora? Essas são discussões que vamos ter que ter; são difíceis e precisamos tirar as emoções e os ambientes político-partidário e transformar em uma discussão de nação.

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InfoGeekie: O que você pretende levar aos diretores e gestores no Geduc?

Giardelli: Eu quero levar o ponto da Economia da Inteligência Artificial e a transição da educação personalizada para a educação da precisão. A educação da precisão é aquela na qual vamos fazer uma educação diferente para cada aluno. É muito mais que personalização, é uma educação baseada em dados e em tecnologia para a gente entender se aquele aluno consegue aprender e de que maneira.

Mais do que isso, também quero levar uma discussão sobre o fato de toda essa revolução, no final, servir pra gente voltar a ser mais humanos e, quem sabe, voltar a dar aula da forma dos gregos antigos, que se sentavam em volta de uma praça e discutiam sobre a humanidade e filosofia.

Por fim, vou defender que a gente está vivendo como um novo ser humano vitruviano. Esse é aquele ser humano que nasce no renascimento e ganha força no iluminismo, que vê muito a beleza nos números, mas não muita paixão na humanidade. Então vou defender um mix de um novo renascimento com um novo iluminismo da era da inovação acelerada.

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