O professor e a inovação na sala de aula

Colunas

Muito se fala de “inovação na sala de aula”… Mas, na prática, o que é isso? Vania Sena, da área de Avaliação da Geekie, reflete sobre o assunto em um texto instigante. Confira!

Quando o assunto é educação, parece que a questão da vez é “inovação na sala de aula”. A famigerada palavra aparece em todas as esferas escolares: o gestor define os valores da escola a partir desse termo; o coordenador orienta os professores sobre a necessidade de inovação; os professores, por sua vez, se autodenominam “profissionais inovadores”; os estudantes sabem que gostam de inovação e esperam por isso; os familiares amam quando surge algo novo na escola e buscam, de fato, um ambiente inovador para seus filhos.
Eu não ousaria definir nem dar qualquer resposta precisa relativa a essa busca, mas tenho questionado a mim mesma, constantemente, acerca do que é, na prática, inovação na sala de aula. Como professora, vivo a frequente oscilação entre ver o resultado esperado de algo que planejei e assistir à minha fracassada aula sendo exatamente o que não deveria ser.
Essa oscilação entre o que funciona e o que não funciona em aula é o que norteia minha reflexão – desculpem-me os experts, mas este texto não busca dar nenhuma resposta.
Antes de tudo, acho importante apresentar-lhes cinco prolegômenos essenciais, para não haver nenhum tipo de discussão gerada por conta do que se entende ser uma “escola”:

  1. O professor é um profissional e a escola precisa ser um espaço que propicie seu trabalho – ainda que “ser professor” seja uma atividade complexa, não se pode desconsiderar o fato de que o professor é um profissional e a escola precisa de um ambiente com uma infraestrutura mínima para que seu trabalho seja exercido com qualidade. Mesa, cadeira, lousa e materiais para trabalhos precisam existir para que haja a possibilidade de um ofício digno.
  2. A escola não é um lugar onde somente o conteúdo importa –  por trás dos papéis previamente definidos (professor, estudante, gestor etc.), há seres humanos, todos com suas demandas individuais e questões a serem resolvidas. Muitas vezes, não é possível ignorar o que se passou fora do ambiente escolar e entrar ali esperando achar um grupo pronto a ouvir e entender integralmente todo o conteúdo programado.
  3. A escola não é um lugar onde se separam os inteligentes e talentosos dos não-inteligentes e não-talentosos – a atribuição de nota não é tarefa fácil, já que muitas vezes percebemos o esforço e empenho constante de um estudante que nunca atinge uma nota considerada “boa”. As aptidões pessoais e o esforço são, quase sempre, desconsiderados nas notas frias escritas em folhas que dizem quão bom é certo estudante.
  4. A escola não é um passatempo qualquer – embora a rotina da maioria das famílias seja muito corrida e a escola pareça fazer parte de mais um tipo de “lazer”, no qual os filhos gastam seu tempo livre, definitivamente, ela não é apenas mais um divertimento qualquer. É ali que se aprendem lições para a vida inteira, pois a escola tem importante papel na formação social dos estudantes.
  5. A escola não substitui toda a demanda afetiva dos estudantes – mesmo possibilitando a formação de amizades e papéis relevantes, a escola não supre todas as demandas sentimentais dos estudantes. Assim, o papel da família e do acolhimento doméstico é insubstituível.

Tendo considerado esses cinco pontos básicos, que obviamente não são os únicos, volto a perguntar-me: o que é a inovação na sala de aula? À minha mente vêm duas lembranças: a primeira, de quando eu estava em uma sala de aula equipada com tecnologia de ponta, lousa interativa, internet e muito recursos audiovisuais à disposição, mas pessoalmente desanimada com o contexto presente – eu pouco conhecia os estudantes, não dava conta de captar a todos e não me sentia preparada para a tamanha diversidade que parecia não me perceber; a segunda lembrança é de uma aula em uma sala de jantar, com pouco recurso disponível, uma lousa pequena branca e um notebook à mesa para alguma urgência e estudantes que me encaravam como se dissessem “aonde chegaremos?”.
A diferença entre as duas lembranças? A inovação na sala de aula! Não me refiro aqui àquela que acontece nos devices, quando ocorre a troca do caderno pelo celular, tampouco à substituição da lousa verde pela interativa – falo da mudança de olhar.
A maior inovação na sala de aula possível é olharmos para cada estudante como ser único que é, enxergarmos a nós mesmos, entendermos nosso papel e buscarmos o mínimo de empatia por seres tão distintos. Então, enfim,  perguntarmos a nós mesmos: como trilharei com cada um desses seres humanos  as suas jornadas rumo ao que eles sonham alcançar?
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* Vania Sena é Mestranda em Letras (USP) e graduada em Letras (USP). Trabalha na Geekie na área de Avaliação e é professora de Língua Portuguesa, no Ensino Fundamental, e de Gramática e Literatura no Ensino Médio.

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