A genialidade não é aparente e pode ser desenvolvida

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Turing

Thiago Chaer, especialista em tecnologia educacional, fala sobre o futuro da educação, abordando o papel da escola no desenvolvimento de “gênios”. Leia mais!

Recentemente saiu uma matéria na BBC Brasil intitulada: O péssimo boletim escolar do gênio considerado pai da computação. Literatura inglesa: regular. Francês: escrita muito fraca, com erros básicos fruto de trabalho apressado. Redação: muito grandiloquente para suas habilidades. Matemática: promissor, mas precisa colocar suas repostas no papel de forma inteligível e legível. Estas eram algumas das observações dos professores sobre o desempenho de Alan Turing, uma das mentes mais brilhantes do século 20, o cientista britânico considerado o pai da computação e visionário da inteligência artificial que conseguiu decifrar a linguagem secreta usada pelos nazistas, contribuindo assim para encurtar a Segunda Guerra Mundial.

Perceba que do ponto de vista do professor, da escola, Turing não seria um gênio capaz de revolucionar a sociedade, pois suas ideias não eram claras o suficiente para construir algum significado inteligível, pelo menos não para aqueles professores. Seu professor de matemática menciona, por exemplo, sua incapacidade de apresentar uma “solução de forma clara”. “Isso é fundamental para um matemático de primeira linha”, disse o mestre no boletim. Anos mais tarde, Turing se formaria com honras nesta disciplina na universidade King’s College, em Londres, onde estudou entre 1931 e 1934.

Aqui, faço um convite para reflexão: O que levou Turing a se tornar um gênio da computação? Uma motivação intrínseca? Seu contexto social e cultural (família, amigos, professores)? Uma demanda extrínseca provocada pelo contexto político e econômico da época? Foi um conjunto de fatores? Seria difícil estabelecermos uma relação de causa-efeito sobre a genialidade de Turing.

Dica: Assista O Jogo da Imitação (2014) e Breaking Code (1996), para conhecer um pouco da história de Alain Turing.

Se seguirmos o senso comum e o modelo de ensino atual, a genialidade teria alguma relação com a inovação e o empreendedorismo, mas poucos teriam acesso ou potencial de desenvolver. Aqueles que o fazem pensam “fora da caixa”. Esse limitado entendimento sobre a genialidade (aqui vai mais uma recomendação: Onde Nascem os Gênios – 2016, Eric Weiner, Editora Darkside), de que poucos teriam essa capacidade e potencialidade é uma fantasia criada pelo modelo industrial, linear e mecanicista.

No livro Onde Nascem os Gênios, Weiner remonta a história da humanidade para buscar o entendimento sobre a genialidade, e uma das conclusões é que entre aqueles considerados gênios há um fator em comum: uma crise. A crise serve para trazer mudanças, e é nela que reside o potencial da inovação, da genialidade. Se a educação mundial está em crise, esta é uma ótima oportunidades para repensar e agir! 

Inspire-se em iniciativas inovadoras e conheça as escolas mais inovadoras do Brasil reconhecidas pelo MEC.

Há inúmeros exemplos, como Steve Jobs, Bill Gates, Mark Zuckerberg, que largaram os estudos formais para se dedicarem na concretização de algo prático e transformador para a sociedade. Há milhões de casos não conhecidos de pessoas que construíram, e ainda fazem, negócios de sucesso e impactam outros milhões ou bilhões de pessoas. A armadilha na sociedade moderna é se convencer que o modelo atual de escola funciona, porque há evidências (aprovação nos vestibulares, empregos garantidos pelos diplomas, etc.).

De acordo com o Instituto Locomotiva, quase 70% das pessoas da classe A e B não possuem diploma universitário e 80% nunca viajaram para o exterior. O insight aqui é: que diferença o diploma (ou a falta dele) está fazendo para essas pessoas e para a sociedade/economia/cultura? Acho que não há uma resposta simples e dependerá do quanto queremos controlar e inferir sobre o futuro das pessoas.

A escola seria responsável pela morte da criatividade e reforçaria um modelo baseado em escassez e privilégios? A nossa conformidade e falta de referências reforçam o seu modelo? Mais professores deveriam empreender e criar novas escolas? Eles deveriam ser intraempreendedores e propor mudanças incrementais na escola que atuam? Os alunos deveriam questionar e propor mudanças?

Todos os questionamentos feitos neste artigo são um convite para você refletir conosco sobre o futuro da educação.

* Thiago Chaer possui mais de 15 anos de experiência em inovação e tecnologia digital. É sócio-fundador e CEO da Future Education, aceleradora de startups de educação. Atua como palestrante e mentor de startups de EdTech. Já trabalhou com grandes instituições, entre elas o Parque Tecnológico de Itaipu, FIEP, Sesi/PB, Senac/SP, Sinepe/ES, Universidade Positivo, Prefeitura de Itanhaém, Sicredi e Sinepe/PR. É diretor do comitê de EdTech na ABStartups e e membro da Comissão de Especial de Educação Digital na OAB (2016-2019), sendo coautor do Compromisso de Privacidade de Dados Educacionais.

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