“Socioemocional e a capacidade de fazer escolhas não são bem desenvolvidos na Educação Básica”

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Segundo Sofia Esteves, jovens não chegam na faculdade com competências essenciais

Em entrevista exclusiva ao InfoGeekie, Sofia Esteves, fundadora do Grupo Companhia de Talentos, fala sobre as carências dos jovens que chegam nas universidades e no mercado de trabalho atualmente. Ela participará do Educo 2019, Congresso de Gestão Estratégica nas Escolas Privadas, que acontece nos dias 25 e 26 de abril, em São Paulo

Ela nunca imaginou empreender na vida imersa na área de psicologia. Quando teve contato com a área de Recursos Humanos, no entanto, Sofia Esteves se apaixonou e, aos 26 anos de idade, fundou a Companhia de Talentos. A empresa, hoje já com uma história com mais de 30 anos, é o Grupo Companhia de Talentos, que não apenas trabalha com consultoria de seleção e desenvolvimento de profissionais para o mercado de trabalho, mas se define como “uma empresa de educação para a carreira”.

Esteves, que foi a primeira mulher a empreender no meio dominado por homens executivos da década de 1980, diz que o objetivo do Grupo Companhia de Talentos é construir um mundo corporativo que consiga satisfazer os diferentes tipos de perfis que há hoje no mercado.

A primeira empresa atendida pela Companhia foi a Unilever. Na primeira seleção feita para a unidade brasileira da gigante do mercado mundial, 2.345 candidatos se inscreveram para as vagas de trainee. Já em 2016 esse número aumentou para quase 50 mil candidatos. Naquele mesmo ano, 1,3 milhão de universitários participaram dos processos seletivos da empresa que é considerada uma das maiores da América Latina no recrutamento, seleção e desenvolvimento de universitários a presidentes de companhias.

Com a experiência acumulada ao longo do tempo, a empreendedora afirma em entrevista exclusiva ao InfoGeekie que, hoje, os jovens chegam no ensino superior e no mercado de trabalho carentes de algumas habilidades estratégicas para as empresas como capacidade de análise e visão sistêmica.

Eu acredito que é preciso ser feito um trabalho desde o Ensino Fundamental para desenvolver as habilidade que, para qualquer carreira que ele tenha e para a vida dele, esse estudante vai precisar desenvolver.

Referência sobre desenvolvimento de carreira e mercado de trabalho, Esteves participará da primeira mesa do Congresso de Gestão Estratégica nas Escolas Privadas, Educo 2019, que acontece nos dias 25 e 26 de abril no Hotel Blue Tree Premium Morumbi e é organizado pela Blue Ocean Events. Dentro do tema “O futuro que nos aguarda”, a empreendedora irá falar sobre “A expectativa empresarial sobre a formação e a conduta do jovem nos primeiros níveis da organização: Como os jovens são exigidos sobre o que não tiveram formação” na mesma mesa de Eugênio Cordaro, fundador e conselheiro do Colégio Oswald de Andrade, e Maíra Habimorad, vice-presidente acadêmica do Ibmec.

InfoGeekie: No descritivo do Grupo Cia de Talentos há a afirmação de que “Acreditamos no potencial de todos: em cada um existe sempre um talento capaz de transformar e mobilizar empresas e sociedade”. Essa multiplicidade de talentos conversa diretamente com a importância de reconhecer as múltiplas inteligências dos indivíduos no processo de aprendizagem, uma teoria de Howard Gardner, professor da Universidade de Harvard. Em sua visão, a educação básica de hoje explora e desenvolve os talentos dos estudantes ou eles chegam no Ensino Superior e no mercado de trabalho ainda com lacunas deste desenvolvimento pessoal?

Sofia Esteves: Os jovens não estão chegando no Ensino Superior com as habilidades necessárias para cursar uma boa faculdade e entrar no mercado de trabalho. Eles vêm até com conteúdo pedagógico bom, mas o socioemocional, a capacidade de fazer escolhas – inclusive a capacidade de escolher o curso superior -, não são bem desenvolvidos. Hoje, temos 70% de evasão escolar na universidade devido ao baixo autoconhecimento e a baixa capacidade de entendimento de quais são suas habilidades, seus talentos e onde está seu dom profissional. Eu acredito que é preciso ser feito um trabalho desde o Ensino Fundamental para desenvolver as habilidade que, para qualquer carreira que ele tenha e para a vida dele, esse estudante vai precisar desenvolver.

InfoGeekie: Quais são os principais pontos de desenvolvimento de jovens profissionais de hoje?

Esteves: O principal ponto que o jovem precisa desenvolver é o autoconhecimento. Ele precisa entender seus pontos fortes e fracos, suas principais habilidades, o que lhe traz alegria, prazer e o que o frustra. A segunda habilidade é entender cenários, fazer leitura de cenários diferentes, conviver com pessoas diversas. Hoje o mundo está exigindo que as pessoas saiam do tipo de grupo que eles participam, seja da escola, da igreja ou do esporte, e conviva com pessoas diversas – de diversas etnias, sexualidades, políticas e religiões. O mundo está exigindo que as pessoas ampliem seus conhecimentos.

InfoGeekie: Durante os 30 anos de existência do Grupo Companhia de Talentos, jovens profissionais de diferentes gerações passaram direta ou indiretamente pela empresa. Como você e a Companhia enxergam as principais características dos jovens nativos digitais e aqueles nascidos no final da década de 1990 quando comparados com os de gerações anteriores? As necessidades de desenvolvimento profissional mudaram?

Esteves: A necessidade de desenvolvimento mudou sim, depois e antes de 1990. As pessoas se conheciam mais antes, tinham menos escolhas de cursos superiores e carreiras. Hoje, temos mais de 30 mil cursos universitários distintos. A imaturidade está maior e o poder de decisão menor. A maturidade faz toda diferença.

Antes você entrava em uma carreira para fazer a vida inteira na carreira ligada ao curso superior. Hoje, o jovem, com qualquer faculdade, com qualquer curso, pode trabalhar em qualquer área. Falando dos nativos digitais, algumas empresas já começam a nem exigir cursos superiores para entrar nessas grandes companhias, principalmente aquelas ligadas à tecnologia. Se o estudante fez um curso de programação ou de desenvolvimento, há todo um mercado de trabalho carente dessa mão de obra e ele vai estar preparado para as demandas do futuro.

InfoGeekie: Quais são as principais competências, habilidades e características que esses jovens apresentam em suas primeiras oportunidades de estágio e emprego?

Esteves: As competências principais que eles chegam é a de se comunicar e trabalhar em equipe. Isso os jovens fazem muito bem, mas o que falta é a capacidade de análise e a de visão sistêmica. A visão sistêmica é uma habilidade muito importante para enxergar o todo e conseguir ver detalhes. Os jovens hoje têm uma visão aérea muito maior, mas com pouca profundidade.

InfoGeekie: As empresas estão preparadas para receber esses jovens?

Esteves: As empresas, ano a ano, têm melhorado na questão do desenvolvimento dos jovens, sejam eles trainees ou estagiários no primeiro emprego. Hoje, há vários programas de desenvolvimento pelos quais os jovens passam dentro da empresa para se prepararem. Aquilo que eles não foram preparados na escola, as empresas têm preparado.

Um desses programas é o “Jornada para o Futuro”, que é um consórcio que surgiu da união de 14 empresas, conduzida pelo Grupo Companhia de Talentos. Esse programa dá todas as oficinas e workshops de desenvolvimento de oito competências aos estudantes e depois eles passam por experiências nas empresas para colocar esses conhecimentos na prática.

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