É hora de abraçar o celular em sala de aula? Conheça a experiência de Nova York

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O que acontece quando uma escola não só permite, mas encoraja os alunos a usarem seus próprios aparelhos eletrônicos na sala de aula? Até o começo deste ano, os celulares eram considerados inimigos do aprendizado na cidade de Nova York – os estudantes eram proibidos por lei de entrar com eles nas escolas públicas. Em março, a situação mudou: o prefeito Bill de Blasio autorizou os aparelhos e deu a cada escola a autonomia para determinar as regras para seu uso. Apesar de muitas só permitirem que eles sejam ligados durante o intervalo, algumas já encontraram formas de aproveitar esse recurso durante as aulas.
Acompanhando uma tendência nacional nos Estados Unidos, o Departamento de Educação (DOE, na sigla em inglês) que opera toda a rede de escolas públicas na cidade de Nova York está encorajando as escolas a usarem os aparelhos eletrônicos dos próprios alunos como ferramentas educacionais por meio do programa “Bring Your Own Devices” (“Traga seus próprios aparelhos”), ou “BYOD”.  Um estudo publicado pela Amplify, uma companhia que cria ferramentas digitais para escolas, apontou que 29% dos distritos escolares norte-americanos abraçou o BYOD em 2014 e outros 20% estavam desenvolvendo um programa desse tipo.
Em Nova York, os resultados têm sido animadores. “Quando você olha em volta, não vê crianças distraídas – você vê crianças que estão engajadas naquilo que estão aprendendo”, disse Lisa Nielsen, diretora de engajamento digital e desenvolvimento profissional do DOE, para uma reportagem do The Hechinger Report. Ela acompanhou o experimento do BYOD em uma turma do quarto ano da P.S. 129, uma escola pública do Harlem. Ali, em uma aula sobre povos nativos americanos, os alunos enviavam suas dúvidas por meio de seus celulares para um software da escola. Depois, toda a turma podia considerar as perguntas conjuntamente.
Quem não tem aparelho próprio geralmente pode pegar um emprestado da escola. Como boa parte dos estudantes tem pelo menos um celular, as escolas não precisam gastar muito comprando equipamento para cada aluno. Mas algumas medidas são necessárias para que as escolas se adaptem estruturalmente antes de adotarem programas como esse. Uma delas é garantir que a conexão com a internet seja segura e suporte um número maior de dispositivos conectados.
O treinamento dos professores, feito pelo Departamento de Educação, envolve ensiná-los a usar apps e programas que funcionem em diferentes dispositivos e ficar por perto para ajudá-los a descobrir o que funciona melhor com suas turmas. A ideia é que eles tenham autonomia e se sintam confortáveis e encorajados a experimentar coisas novas – o que, por sua vez, poderá encorajar também os estudantes.
Benefícios para o aprendizado
Um dos benefícios do BYOD é que isso permite uma consistência maior entre os trabalhos desenvolvidos na sala de aula e em casa, uma vez que os estudantes podem salvar o material em seus dispositivos e continuar a estudar depois.
Como afirma Jackie Patanio, que está liderando a tecnologia em outro colégio público, a P.S. 16 em Staten Island: “Não queremos que isso fique limitado à escola. Queremos que, quando os alunos estiverem no caminho para casa, possam fazer seus deveres. E, quando estiverem em casa, possam fazer suas pesquisas do mesmo jeito que nós os ensinamos a fazer durante a aula. Queremos que isso seja fluido e que o aprendizado seja contínuo”.
Evitando a distração
Assim como em uma sala de aula convencional, sempre haverá alunos distraídos que não estão fazendo o que é proposto. Mas as experiências americanas têm mostrado que, ao contrário do que muitos professores podem pensar, a tecnologia não promove mais distração. As escolas só precisam de um código de conduta para delimitar o seu uso e, desta forma, ensinar aos estudantes (e não deixar que eles ditem) a forma mais adequada e responsável de aproveitar esses recursos.
Tais políticas também podem ajudar a reduzir a ansiedade dos pais em relação à ideia de seus filhos levarem telefones e tablets para a escola. Muitos pais nova-iorquinos não gostaram da ideia no começo, por imaginarem que seus filhos ficariam distraídos e não estudariam – o que é compreensível, uma vez que eles mesmos não foram educados em um ambiente tecnológico. Mas, vendo o sucesso dos programas educacionais já implantados, essa resistência deu lugar à empolgação.
Como escolas brasileiras podem aproveitar essas tecnologias desde já
A grande vantagem dos celulares é que eles tornam possível ao educador testar com liberdade variados métodos para ajudar no aprendizado. Com alguma criatividade, é possível colocar algumas ideias em prática agora mesmo. Por exemplo: adaptando a ideia de uma das escolas de Nova York, um professor brasileiro pode abrir um grupo no Whatsapp para o seu curso e sugerir que as perguntas sobre a aula sejam enviadas por lá. Isso permite que ele perceba com mais clareza a evolução do entendimento dos alunos e dará oportunidade para que os mais tímidos também possam tirar suas dúvidas.
Outra possibilidade: o próprio educador elaborar uma ou mais questões no começo da aula e pedir para que os alunos enviem a resposta pelo celular no final. Isso vai direcionar a atenção, fazer com que exercitem a escrita e o raciocínio, ajudar a fixar o conteúdo e dar um diagnóstico da compreensão geral do tema (e tudo isso economizando papel!).
Além dos benefícios para a aula, essas ideias simples e de fácil execução podem abrir caminho para que tecnologias mais complexas sejam adotadas posteriormente nas salas de aula.
Mas os professores brasileiros devem atentar para um aspecto: assim como nos Estados Unidos, as regras para o uso de celulares nas escolas do Brasil variam de acordo com a cidade e o estado. Logo, os educadores precisam se inteirar das regras vigentes em sua localidade antes de fazer planos.
(Foto: Francisco Osorio/Flickr)

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