Campus party faz discussão de ensino de programação em palestras

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A importância das aulas de programação deu o tom em várias palestras educacionais realizadas na Campus Party, maior encontro das tribos “conectadas” do País, realizado em São Paulo de terça a sábado. Uma das maiores atrações foi o Nao, robozinho fabricado pela empresa francesa Aldebaran usado, entre outras coisas, para ensinar a programar.

Nao é de uma família de robôs que ganhou notoriedade mundial quando seu irmão Pepper foi escolhido pela Nestlé para ser atendente em pontos de venda. O maior projeto realizado com ele no Brasil ocorre no Recife, cuja prefeitura comprou 30 robôs – o preço por unidade, com material didático e acompanhamento técnico-pedagógico, é de R$ 100 mil.
“O Nao já é utilizado em 312 escolas, por 73 mil alunos”, disse Artur Mainardi, responsável pela área de vendas da empresa Somai, representante da Aldebaran no Brasil. “Os estudantes aprendem a programar desde pequenos.” Em um vídeo exibido durante a palestra, alunos elogiaram a facilidade que tiveram para programar o robô.
Nao, que na demonstração feita por Mainardi na Campus Party, dançou “Thriller”, de Michael Jackson, também está sendo empregado em aulas de outras disciplinas, como português, matemática, física e educação física. “Muitos professores mostraram bastante interesse em trabalhar com o Nao, a maioria deles jovens”, disse a diretora pedagógica da Somai, Regina Mainardi.
Outro palestrante da Campus Party, Marco Girotto criticou o modelo de ensino da programação no País. “Aqui já começam com Java. É como ensinar a ler com ‘D. Casmurro’”, comparou Girotto, criador da SuperGeeks, rede de escolas que tem cursos de quatro anos e atende hoje a 350 alunos de 7 a 17 anos.
Na SuperGeeks, os alunos de estágios iniciais fazem exercícios usando o Blockly, do Google, ou o Scratch, desenvolvido no Massachusetts Institute of Technology (MIT), que trabalham com blocos pré-formatados de programação. “As pessoas acham que é superdifícil aprender a programar, mas a gente tem de mostrar que não é impossível, é como aprender outra língua”, disse. “Há muitos consumidores de tecnologia e poucos criadores.”
Girotto disse que não acha que a programação deve ser ensinada como uma profissão. “Ela é uma habilidade. Você não vai aprender para ser programador, assim como não aprende matemática para ser matemático”, disse. O empresário acredita, porém, que, qualquer que for o uso posterior dos ensinamentos, as aulas de programação tem vários benefícios: desenvolvimento do raciocínio lógico, da capacidade de resolução de problemas complexos, criatividade, domínio de inglês, matemática e física, cooperação e trabalho em equipe, melhora do foco e da concentração. “Quem quiser ficar mais inteligente é só aprender a programar”, brincou.
Professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e sócia da empresa Gedutec, Marisa Cavalcante rebateu argumentos de que o ensino de programação visa atender apenas ao mercado. “A linguagem de programação é uma ferramenta. É só uma demanda de mercado? Não, é uma ferramenta que vai proporcionar raciocínio lógico”, disse Marisa, que apresentou na Campus Party uma palestra sobre o uso dos programas Arduino e Galileo no ensino de física.
A professora da PUC pesquisou o uso dos softwares para escapar da armadilha do ensino baseado na memorização e das avaliações homogêneas. O Arduino, criado por pesquisadores de arte e design, é uma plataforma barata e aberta, disponível na internet. “Com ele você não tem limites no processo educacional, fica limitado só à sua imaginação.”
Marisa admite que havia problemas na introdução da programação nas escolas de ensino fundamental e médio. O principal deles era o de nomenclatura. “Se o aluno esquecesse de digitar um ponto-e-vírgula podia levar horas até conseguir consertar”, disse. O problema foi solucionado graças ao Scratch e seus bloquinhos. “Isso facilitou muito a vida”, afirmou. “Não precisa ser gênio, um nerd, para programar.”




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