Programas que orientam claramente o uso de recursos tecnológicos na educação (guided-use programs), incluindo a frequência de acesso, melhoram o desempenho de estudantes quatro vezes mais do que a mera introdução da tecnologia nas escolas. Esse é um dos alertas de um artigo assinado por dois especialistas que pesquisaram no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) as formas mais eficazes de combinar ensino e o universo digital. O texto é um dos subsídios para debates sobre educação que estão sendo realizados desde ontem na seção latina do Fórum Econômico Mundial, no México.
O BID conduziu nos últimos anos pesquisas em 15 países da América Latina e do Caribe, além da China e da Índia para orientar seus investimentos em educação. Os guided-use programs foram os mais eficientes em aumentar o desempenho acadêmico em um conjunto de dez tipos de programas analisados, segundo os autores do artigo – Elena Arias Ortiz, especialista em educação do BID, e Julian Cristia, economista que passou pelo banco e hoje lidera o Wise, fórum mundial sobre educação mantido pela Qatar Foundation.
Os programas avaliados foram divididos em dois modelos, guiados e não- guiados. Entraram no primeiro grupo os que definem a disciplina a ser estudada, o software empregado e o tempo de uso semanal, resumidos em inglês no triplo S: Subject, Software e Schedule. Os não-guiados se concentram em fornecer recursos (computadores, acesso a internet e treinamento mais geral).
“Governos latino-americanos têm implementado uma variedade de iniciativas para melhorar a qualidade da educação nas últimas décadas. Em particular, investiram pesadamente para introduzir tecnologia nas escolas. Nos últimos anos, cerca de 10 milhões de laptops foram distribuídos a estudantes de escolas públicas na região”, escreveram Elena e Cristia. “Esses investimentos produziram os resultados esperados no aprendizado? Quais tipos de tecnologia melhoram mais o desempenho dos estudantes?”
Na resposta a essas perguntas, Elena e Cristia citaram como exemplo projetos desenvolvidos no Peru e na Índia. A experiência peruana do Um Laptop Por Aluno (One Laptop Per Child, OLPC) garantiu a distribuição de equipamentos a estudantes e professores do ensino primário em zonas rurais. Os professores receberam uma semana de treinamento, mas pouca orientação específica sobre como integrar computadores a práticas pedagógicas. “Uma avaliação sólida mostrou que o programa não teve efeitos mensuráveis no desempenho em matemática e linguagem”, escreveram os especialistas.
O exemplo de programa guiado veio da Índia, na verdade um exemplo de ensino adaptativo, como a plataforma online da Geekie. Ele orientou alunos a estudar matemática duas horas por semana por meio de um software que adapta o grau de dificuldade dos exercícios ao nível de conhecimento de cada usuário. “O programa produziu sólidos efeitos positivos no aprendizado de matemática”, informou o artigo. Os autores assinalaram que, no conjunto de países estudados, esses efeitos positivos dos programas guiados foram comprovados também no ensino de linguagem.
O artigo esboçou as características gerais dos programas guiados:
- O acesso ocorre principalmente na escola, não nas casas dos estudantes.
- Os alunos tipicamente se revezam no uso dos equipamentos, ou seja, não é necessário investir nos caros programas do tipo OLPC para obter resultados.
- Os programas se concentram em uma disciplina (matemática ou linguagem, por exemplo) e articulam todos os componentes para melhorar a performance dos alunos: infraestrutura, conteúdo e capacitação dos professores.
- O aprendizado por computador é suplementar ao desenvolvido da forma tradicional, em classe, e dá ênfase à resolução de exercícios práticos, alinhados com o currículo.
- Espera-se dos monitores das sessões de estudo nas escolas que resolvam problemas de logística e tirem dúvidas sobre o software, em lugar de orientar o aprendizado.
O artigo faz uma ressalva sobre o efeito dos programas guiados. Como têm impacto real no aprendizado e costumam engajar muito mais os alunos, eles podem ser muito mais prejudiciais à formação dos estudantes se sua qualidade pedagógica for ruim. “Este é um grande fator de motivação para experimentar diferentes modelos de programas guiados”, escreveram Elena e Cristia. “Também ressalta a importância de avaliar pequenos projetos piloto antes de embarcar em ampliações em larga escala.”
“As evidências sugerem que programas guiados são uma opção promissora para países que desejam liberar o potencial da tecnologia para objetivos educacionais. Isto tem implicações importantes para políticas públicas”, afirmam os autores do artigo. “A primeira geração de programas de tecnologia na educação na América Latina e Caribe tem sido bem-sucedida em expandir o acesso a equipamentos nas escolas. Agora é crucial que todos os atores nessa área, os setores público e privado, ONGs e organizações multilaterais colaborem para desenhar e implementar programas eficientes e escaláveis para enfrentar nosso maior desafio, melhorar o ensino na região.”
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